Suponha que você pegue todos os adjetivos descritivos de personalidade na língua portuguesa. Suponha que tenhamos reduzido esses adjetivos em apenas 100 palavras diferentes, de forma que nenhuma delas seja sinônimo uma da outra, e que sejam as palavras mais usadas para descrever pessoas (e, portanto, excluímos palavras que são raramente usadas para descrever personalidades das pessoas). Em seguida, você dá a centenas de pessoas um teste pedindo que elas avaliem o quão bem essas palavras os descrevem. As perguntas ficariam tipo assim:
___________________________________________________
Por favor, avalie o quanto a seguinte palavra te descreve:
Artístico
☐ Concordo fortemente
☐ Concordo
☐ Neutro
☐ Discordo
☐ Discordo fortemente
___________________________________________________
Em seguida, você pega as respostas das pessoas e submete a um método estatístico chamado "análise de fatores". Pragmaticamente, analise de fatores pode ser pensado como um método de redução de dados. Mas é mais uma maneira de identificar variáveis-latentes encontrando padrões nos dados. Mais specficiamente, depois que os dados são coletados, a análise fatorial é usada para identificar as dimensões ou fatores subjacentes que explicam os padrões de respostas em diferentes itens. O objetivo é identificar as dimensões mais básicas e significativas da personalidade que podem ser usadas para descrever diferenças individuais de maneira confiável e válida.
Anyway, no início, a análise de fatores agrupará perguntas que são quase "perfeitamente preditivas" uma da outra. Por exemplo: as respostas das pessoas a palavra 'Distante' estarão fortemente relacionadas com as suas respostas a palavra 'Amigável'. Isso ocorre porque as pessoas que dizem ser distantes tendem a também dizer que não são amigáveis, e vice-versa. Como palavras como amigável e distance estão tão fortemente relacionadas, elas serão agrupadas na mesma faceta, assim como palavras (mais óbvias) como "responsável" e "irresponsável" serão agrupadas juntas na mesma faceta. Em seguida, as facetas em si acabam sendo agrupadas nos mesmos fatores.
- Por exemplo: Descritores como entusiasmada e animada (ou melancólica e apatica) são agrupados na faceta A.
- Sociavel e amigavel (ou antipatica e reservada) são agrupados na faceta B.
- Assertiva e confiante (ou passiva e tímida/insegura) são agrupados na faceta C
No entanto, todas essas facetas (A, B, C) estarão relacionadas entre si e fazem parte do fator "extroversão". Mas a extroversão não está correlacionada com as facetas que compõem o fator (digamos) "conscienciosidade", que são facetas como A) ordem/desorganização; B) diligência/falta de disciplina; C) imprudência/cautela.
Quando você passa por esse processo de agrupar palavras em facetas e facetas em fatores, você acaba com cinco principais fatores na língua inglesa: Extroversão, Conscienciosidade, Agradabilidade/Amabilidade, Abertura para Experiência e Neuroticismo. Quando você faz isso com uma variedade maior de línguas, mas principalmente línguas ocidentais, acaba com o modelo HEXACO: https://hexaco.org/scaledescriptions Que inclui um sexto fator: honestidade-humildade.
Depois de identificar esses fatores, é importante avaliar sua confiabilidade (reliability) e validade (validity) para garantir que representem com precisão o construto de interesse.
Confiabilidade é uma medida de consistência. Esses testes têm excelentes:
- Confiabilidade entre avaliadores: Se você pedir a alguém próximo para responder a perguntas sobre sua personalidade, as respostas deles terão uma forte correlação com as suas.
- Confiabilidade teste-reteste: Se você fizer um teste de cinco grandes hoje e outro teste de cinco grandes meses depois, suas respostas para os dois terão uma forte correlação.
- Confiabilidade interna: As perguntas que medem (digamos) a extroversão sempre estarão correlacionadas umas com as outras, mas têm pouca ou nenhuma correlação com aquelas que medem (digamos) a conscienciosidade, indicando que essas questões estão de fato medindo fatores diferentes.
Ja a validade responde à pergunta “essa avaliação realmente mede o construto que afirma?” Esses testes têm excelentes:
- Validade de critério: Os comportamentos supostamente medidos nesses testes são observados no futuro na vida real.
- Validade preditiva: Bastante semelhante à validade de critério, embora esta seja mais do que apenas "o comportamento medido foi observado" - validade preditiva é a capacidade de prever comportamentos previstos nas pontuações. Por exemplo, alguém respondendo alto em extroversão tendo muitos amigos, ou alguém respondendo alto em conscienciosidade sendo relatado como um trabalhador confiável por seu futuro chefe.
- Validade de construto e conteudo: Esses dois estão preocupados em saber se estamos medindo (1) tudo o que pretendemos medir, mas também (2) apenas - e nada mais - do que pretendemos medir. Por exemplo, a abertura à experiência mede a curiosidade intelectual. No entanto, essas perguntas enfatizam apenas tendências e preferências para se envolver em atividades intelectuais e, portanto, NÃO medem a capacidade de aprender (o que seria o QI; um construto diferent).
Um jeito de visualisear confiabilidade e validade:
Ai sim podemos desenvolver uma compreensão mais abrangente e sutil de como as diferenças individuais na personalidade influenciam o comportamento e os resultados da vida. Isso pode ajudar a desenvolver melhores maneiras de avaliar e entender a personalidade, bem como intervenções e estratégias para promover resultados positivos em diferentes áreas da vida.
QI
Tudo isso se aplica aos testes de QI, que foram derivados e validados da mesma forma.
Mas observe que a inteligência é um termo abrangente e pode se referir a muitas coisas, e não apenas ao QI. Mesmo algo fortemente associado à "inteligência mental", como conhecimento e educação, não são QI, embora o QI ajude na obtenção de conhecimento e no bom desempenho acadêmico. Em fato, os melhores testes de QI pressupõem o mínimo de experiência possível do candidato, já que o QI é sua capacidade de resolver problemas novos e aprender conceitos novos.
No entanto, como o QI ajuda significativamente no aprendizado de informações abstratas, os testes de QI podem incorporar testes de vocabulário (como pedir para você descrever o significado das palavras, encontrar sinônimos, encontrar as palavras certas para descrever algo, etc.) e questões matemáticas. Mas esses testes só são válidos se todos os participantes tiverem níveis de educação semelhantes.
Outro problema com os testes de QI que têm questões de matemática e vocabulário (ou qualquer outra questão de conhecimento/informação) é que esses testes medem parcialmente o interesse intelectual. É crucial observar que a curiosidade, e o quão "intelectual" alguém é, é uma medida de sua personalidade. Embora esses traços de personalidade ajudem a aprender novas informações, eles são uma medida separada do QI. (Você deve ter percebido que isso é um bom exemplo de testes com baixa validade de construção e conteúdo.)
Resumindo -- o resultado de um bom teste de QI não está medindo sua personalidade ou sua educação; apenas seu potencial mental.
E para entender o que os testes de QI medem, é melhor simplesmente olhar para uma série de perguntas do teste de QI e ver por si mesmo o que isso exige de você:
1) Qual número deveria vir a seguir na série 1 - 1 - 2 - 3 - 5 - 8 - 13?
- 8
- 13
- 21
- 26
- 31
2) Olhe para esta sequência numérica por apenas cinco segundos, desvie o olhar e relembre-os de trás para frente: 7 9 4 5 0 3
3) John precisa de 13 garrafas de água da loja. John só pode carregar 3 de cada vez. Qual é o número mínimo de viagens que John precisa fazer à loja?
- 3
- 4
- 4 1/2
- 5
- 6
4) Se todos os Bloops são Razzies e todos os Razzies são Lazzies, todos os Bloops são definitivamente Lazzies.
- Verdadeiro
- Falso
5) Esta sequência de quatro palavras, "triângulo, luva, relógio, bicicleta", corresponde a esta sequência de números "3, 5, 12, 2".
- Verdadeiro
- Falso
6) Se Richard olha para um espelho e toca sua orelha esquerda com a mão direita, a imagem de Richard parece tocar sua orelha direita com sua mão esquerda.
- Verdadeiro
- Falso
7) 
8)
9)
(Este é mais difícil. A resposta é G - os pequenos círculos 'são somados'.)
Em suma, os testes de QI medem a capacidade de resolver problemas abstratos e sua "facilidade" em lidar com informaçao. Portanto, os testes de QI preveem seu desempenho em trabalhos complexos (mas não em trabalhos simples) e sua habilidade em disciplinas escolares altamente abstratas e dependentes de raciocínio lógico, como ciências e matemática (mas não tanto em artes, esportes, etc.)
Further readings:
https://som.yale.edu/news/2009/11/why-high-iq-doesnt-mean-youre-smart
https://psychcentral.com/blog/does-success-lead-to-happiness#recap
https://www.scientificamerican.com/article/rational-and-irrational-thought-the-thinking-that-iq-tests-miss/
IQ vs aptitude